5 de junho de 2011

Voyeur #4



Ele me olhava através da cortina da sala. Eu me demorava a abrir o cadeado, só pra sentir o seu olhar em minhas costas. Ele não disfarçava se eu olhasse em sua direção.

Eu o sabia chegar, mesmo antes do carro dele apontar na esquina, tinha sempre musica acompanhando o barulho do motor. Eu interpretava cada canção. Ainda faço isso, sempre acho que a musica dentro do carro quer me dizer algo. Normalmente não quer...

O primeiro beijo eu lembro, foi voraz, barba por fazer e um alerta disparado alucinado dentro do meu peito me dizendo: Perigo! Perigo!
Recuei como somente as presas conseguem fazer, mas já era tarde, ele avançou como somente os caçadores sabem fazer, em surdina, como o bote de um felino. 
Eu sempre o comparo aos felinos, independentes e charmosos...
Eu sabia, quando subia aquela rua e consciente da sua presença, me virei e o flagrei a me observar, que não adiantava fugir eu tinha que ter você.
Nunca o tive.
Mesmo agora, com você ao meu lado entregue a esse sono cansado, com sua respiração tão profunda e pausada, que só a intimidade permite eu sei que nunca tive você.
O que nos somos um pra o outro é essa eterna conquista, é esse querer, vontade de desvendar sem despertar... De olhar sem ser notado.  
Essa mania de voyeur.


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